Não acredito em adaptações. Adaptações sempre são, de certa forma, um achatamento da obra, um assassinato do texto original. Por conta disso, defino o trabalho feito na minissérie como uma aproximação. Por isso optei por um outro título, Capitu, diferente de Dom Casmurro, título original do romance. Assim, a ideia da aproximação ficaria ainda mais clara, revelando não se tratar apenas de uma tentativa de transposição de um suporte para outro, e sim de um diálogo com a obra original.
Na minissérie, estou reafirmando a dúvida presente em Dom Casmurro como parte do processo cultural e dialético da modernidade. E acredito que a dúvida não é amoral ou imoral, não é um pecado. O escritor do romance, Machado de Assis surge como um avanço em seu tempo, uma nova proposta estética em relação à literatura da època que se produzia no país e no mundo. A opção pelo caminho da dúvida eleva o romance ao mítico embate entre a mera aparência das coisas e a verdade do mundo.
O início do romance me emociona muito pela ideia da continuação. A primeira vez que um personagem fala no romance – e esse personagem não é outro, senão Dom Casmurro – diz apenas uma palavra ao jovem poeta que o interpreta: ‘Continue’. A fala tem uma força extrema. Gosto de pensar que Machado permaneceu, independentemente da alta qualidade de sua literatura, porque soube continuar, insistir nos seus temas obsessivos, correndo todos os riscos por isso.
A ópera, pela qual Machado era um apaixonado, teve um papel nessa aproximação que proponho com o romance. Ele escreveu e afirmou que “a vida é uma ópera bufa, com alguns entremeios sérios, com alguma música séria”. Quando Machado afirma isso, ele também está querendo refletir sobre o mundo das aparências, onde, muitas vezes, as aparências contam mais do que a própria verdade. Esse é o mundo das máscaras. É o mundo da ópera como metáfora das relações sociais.