Busquei uma narrativa mais leve. A novidade maior talvez venha através do texto, e não do visual. E, para isso, foi fundamental a parceria com João Paulo Cuenca e Cecilia Giannetti e Michel Melamed. Apesar da aparente leveza, há um conjunto de linguagens por trás desse trabalho que me interessa e que o torna bem indefinido. Não chamaria de comédia nem de drama.
Clichês [?]
Há uma infinidade de repetições em todos nós, homens e mulheres, que nos curvamos muitas vezes em prol de um bem comum, um mundo melhor, princípios e moral elevada, enfim, tudo isso que me parece muito rico para a dramaturgia. Por outro lado, a repetição destes comportamentos é cada vez mais tragicômica e ridícula. Se tivesse que resumir Afinal, o Que Querem as Mulheres? diria: a tragédia de um homem ridículo! Este seriado conta a travessia patética de um homem em relação aos seus objetos de desejo, ao amor, aos afetos e a uma espécie de visão do feminino que parece o devorar sempre.
Patético [?]
Não sei ser engraçado, muito menos pretendo. Não peço isso aos atores, e também não escrevemos o texto pensando em fazer graça, o resultado seria uma catástrofe. Já a melancolia me orienta, talvez tenha nos orientado no texto também e certamente já me salvou muitas vezes. Acho graça nos filmes de Chaplin, que ao mesmo tempo me levam às lágrimas, daí você tira o quanto estou dando os primeiros passos. É que ainda encontro certa dificuldade para crer que os acontecimentos e a narrativa do seriado devam se concentrar em único gênero. Fico me perguntando se um bom texto, moderno ou clássico, já traz em si várias camadas.
Comédia [?]
Não chamaria de comédia, mas este deslocamento está vinculado à minha curiosidade por novos temas e linguagens, uma certa versatilidade narrativa. Sinto que cada conteúdo requer uma linguagem. E como não sou capaz de escrever um sitcom, aí vai minha pequena tentativa. Procuramos nos aproximar da linguagem das redes sociais, das mídias modernas, do diálogo curto, do diálogo fazendo o papel dos comentários da rede, com mais acidez, mais risco, uma linguagem mais direta, sem tantas reiterações da dramaturgia televisiva. E apesar da aparente leveza, há um conjunto de linguagens por trás desse trabalho que me interessa e que, na verdade, torna o todo algo bem indefinido em termos de gênero.
Cia de ópera [?]
Primeiro veio a ideia de trabalharmos pequenas narrativas, mas para isso precisava de um elenco grande. Junte-se a isso a necessidade de continuar a trabalhar os atores como coautores do processo criativo, elaborando as cenas com boa dose de improvisação. No caso específico de Afinal, o Que Querem as Mulheres?, parti de um pressuposto: esse grupo de mulheres, que se revezam em várias cenas e em diferentes personagens, representam o desdobramento do feminino principal, Lívia, o amor primordial de André. Lancei o mesmo conceito para os personagens masculinos, que, então, representam o desdobramento do masculino, ou seja, do próprio André.
Riso final [?]
Talvez minha incapacidade confessa de traduzir o feminino [que é mesmo tão múltiplo] tenha me emprestado a coragem de criar este seriado, que não se trata de retirar uma resposta pronta da cartola, nem de definir um gênero: isto é uma comédia! isto é um melodrama! Mas de rir do patético que há em nós [este, sim, me parece um gênero novo!] e de seguir gargalhando dos meus eternos clichês cheios de fórmulas e certezas, e tudo isso em companhia dos meus novos amigos de texto, João Paulo Cuenca, Cecilia Giannetti e Michel Melamed, tão cheios de sonhos esfarrapados quanto eu.
Então o riso final seria este: fruto da constatação do vazio que se tornou qualquer modelo oficial – amoroso ou não. Esta constatação deu a André a possibilidade de não se cristalizar, reinventando seus dias com força capaz de seguir amando a Vida e o Amor. André vencerá a si mesmo e, pegando na mão de Simone de Beauvoir, poderia até nos dizer: “Querer-se livre é também querer livres os outros.”