“No meu segundo encontro com o Luiz, ele simplesmente olhou para mim e disse: ‘Quaderna é seu’. Foi assim. Eu passei dez minutos calado, olhando para ele, que tinha um ar de riso, divertindo-se com a imagem que estava vendo ali, de espanto. Ele perguntou: ‘Eu não tinha lhe dito ainda não?’. Eu disse: ‘Não’. Aí ele riu, e fez um gesto, o primeiro gesto corporal, que eu vou confessar aqui, eu guardei para utilizar no Quaderna. Ele deu uma olhada de lado para mim, esticando o pescoço, e eu vi ali Quaderna me aprontando. Como é que ele faz uma coisa dessa comigo, me diz assim na lata: ‘É seu’? Bem quadernesco aquilo que ele fez. Ali tive a primeira inspiração para o personagem.
O ponto de partida do Quaderna, para mim, foi um ponto de interrogação. Quando li Quaderna, vi esse buscador questionando tudo, porque ele queria saber das coisas mais a fundo. Então foi esse o primeiro desenho que eu fiz do Quaderna no papel. E esse ponto de interrogação eu levei para o corpo do personagem. Por isso ele tem um corpo desenhado com a coluna. A partir daí, com a ajuda da Tiche Viana, do Ricardo Blat, das indicações diretas e claras do Luiz Fernando Carvalho, da conversa que tivemos com Ariano Suassuna e com o próprio Carlos Byington esclarecendo coisas fundamentais nos campos enigmático e inconsciente, coisas foram sendo acrescentadas. Como o ritmo do Quaderna, que muda constantemente – ora é um furacão, ora é um vento fino. Quaderna foi sendo construído coletivamente, com tanta ajuda ao redor, mas tudo partindo desse ponto de interrogação ambulante.
Eu vejo o Quaderna como um grande buscador, o homem que está em busca do ser completo que um dia nós fomos na presença de Deus. Ele vai atrás desse sonho pesquisando suas raízes. A trajetória que ele faz até a sua pedra encantada leva em conta as raízes de sua família, de seu sangue, de sua terra, de sua região, de seus antepassados.
A voz do Quaderna foi uma descoberta em um dos exercícios da Tiche Viana. Ela nos desafiou a acharmos um animal que representasse o nosso personagem. No momento me veio o famoso Louro, como a gente chama no Nordeste, e que muita gente conhece como papagaio. O falante animal. O Quaderna é falante. Foi em cima do Louro que comecei a brincar com a voz do animal e que se chegou a essa voz do Quaderna, que pode dizer palavras régias e doces, mas que também pode ser feroz e bravo, na mesma medida”